sábado, 19 de outubro de 2013

Ponto de vista de um fotógrafo cego

Assistindo o documentário "Janelas da Alma" por conta de uma matéria da facul , impossível não se impressionar com os diferentes olhares artísticos ressaltados . Sobre o que , basicamente , fala o documentário ? Enxergamos de maneiras diversas . E mais , a nossa realidade é condicionada pelo "universo midiático" no qual estamos mergulhados . O que seria a loucura , insanidade ?  Seria um olhar desviado um pouco a mais do padrão geralmente aceito . São exatamente essas maneiras singularmente "desviadas" de enxergar o mundo , que apresentam resultados artísticos singelos ao cumprir a função de carregar significado e transmitir um mundo todo particular aos olhos do espectador .

As fotografias que escolhi mostrar são o trabalho do fotógrafo Evgene Bavcar . Cego desde os 12 anos , pegou em uma câmera pela primeira vez aos 16 e após revelar as primeiras fotos tiradas no colégio , surpreendeu-se ao perceber que não as enxergava , mas podia fazê-las .






Evgene diz uma coisa que eu acho muito importante . No começo ele pedia para seus amigos descreverem as cenas e pessoas , inclusive se apaixonava por moças que seus amigos , e não ele próprio , achavam belas . Ele diz que "não devemos usar a linguagem dos outros , nem utilizar o olhar dos outros porque , nesse caso , existimos através do outro . É preciso tentar existir por si mesmo" . E graças a esse senso verdadeiro de que o que nos torna únicos é a nossa visão particular de mundo , surge o seu incrível trabalho fotográfico , marcado por contrastes de luzes , sombras e imagens sobrepostas , que não permitem uma interpretação usual como para com fotografias comuns .






A fotografia de Evgene é sinestésica . Ele fotografa cenas "imaginárias" , diz que cria a cena em sua cabeça , fotografa imaginação . Sua fotografia é tátil . Nós enxergamos com os olhos e ele com as mãos . Em algumas fotografias vemos suas mãos , em algumas ele toca o rosto das pessoas e mede distâncias . Ele fotografa sons , como quando prende um sininho na canela de sua sobrinha e a pede para ela dançar ; ele fotografa o som do sininho . Com as luzes e sombras ele fotografa imagens distorcidas , imagens de uma visão fragmentada , perdida , ou construída a partir de lembranças ; ele fotografa memórias , fotografa não-visões , fotografa o invisível .




- "Eu fotografo o que imagino. Os originais dentro da minha cabeça. É uma questão de criar uma imagem mental, o registro físico que melhor representa o trabalho do que se imagina"







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